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Otan admite ataques preventivos contra guerra híbrida da Rússia

(FOLHAPRESS) – A tensão entre a Rússia e a Otan subiu mais um degrau nesta segunda-feira (1º), com o chefe do Comitê Militar da aliança ocidental sugerindo ataques preventivos para dissuadir Moscou de prosseguir com a chamada guerra híbrida contra a Europa.

“No ciberespaço, estamos reagindo. Estamos pensando em se mais agressivos ou proativos, em vez de reativos. Como a dissuasão é alcançada, por retaliação, ataque preventivo, isso é algo que temos de analisar profundamente”, disse o almirante italiano Giuseppe Cavo Dragone ao jornal britânico Financial Times.

O comitê que ele lidera é o principal órgão de assessoramento militar da aliança, responsável por dar as diretrizes de ação do clube de 32 membros liderado pelos Estados Unidos.

Guerra híbrida é o nome dado a ações como sabotagem e ataques hacker, que por não serem diretas, podem ser negadas pelos adversários. Países europeus dizem que a Rússia está por trás de uma série desses atos no continente, como a explosão numa ferrovia polonesa na semana passada, o que o Kremlin descarta como russofobia e paranoia.

Com efeito, a chancelaria russa protestou contra a fala de Dragone. A chamou de “extremamente irresponsável” e escalatória, demonstrando um desejo de confronto.

Na semana passada, o presidente Vladimir Putin disse que a ideia de que Moscou queira atacar a Otan, o que poderia provocar a Terceira Guerra Mundial, era “ridícula”. Para ele, os membros europeus da aliança estimulam a continuidade da Guerra da Ucrânia, iniciada pelo russo em 2022, para minar seu país.

Dragone citou a operação Sentinela Báltico, iniciada no começo deste ano, como um exemplo sobre como proatividade militar pode funcionar sem necessariamente levar a um conflito maior.

Em 2023 e 2024, o mar Báltico foi palco de diversos incidentes de danos a cabos submarinos de energia e dados, atribuídos a navios ligados à Rússia e à China, até aqui sem provas. De todo modo, a Otan lançou uma missão constante de patrulha que zerou os incidentes.

Houve intercorrências, como no caso em que um avião francês ficou na mira de radares de baterias antiaéreas russas em Kaliningrado, e as usuais interceptações de aeronaves de lado a lado seguem semanais, mas por ora só isso. “Isso significa que a dissuasão está funcionando”, afirmou o italiano.

A troca de ameaças ocorre no momento em que o governo de Donald Trump corre para tentar fechar um acordo que estabeleça a paz na Ucrânia, um trabalho cuja complexidade já derrubou o prazo que o americano havia imposto para uma solução, na quinta-feira passada (27).

Ao longo do fim de semana, ucranianos e americanos se reuniram na Flórida. O lado de Kiev está particularmente em dificuldades, já que na sexta (28) o principal assessor do presidente Volodimir Zelenski, Andrii Iermak, foi demitido após agentes anticorrupção fazerem uma batida em sua casa.

Ele vinha tratando da revisão de uma proposta pró-Putin que havia sido delineda pelo negociador americano Steve Witkoff e o russo Kirill Dmitriev. O texto foi modificado, mas Moscou rejeitou as alterações, embora se mantenha aberta a discuti-las.

Nesta terça (2), Witkoff se encontrará em Moscou com Putin, na sexta reunião entre os dois neste ano. Ele talvez esteja acompanhado pelo influente Jared Kushner, genro de Trump que participou das conversas do fim de semana nos EUA.

O temor na Europa é uma reversão dos termos mais amenos ajustados na semana passada, dado que Witkoff é percebido como simpático ao Kremlin.

Em busca de apoio, Zelenski viajou nesta segunda a Paris, onde se encontrou com o presidente Emmanuel Macron. O francês tem buscado liderar uma reação à investida de Trump justamente por temer o que chama de capitulação forçada de Kiev, mas até aqui os recursos europeus são limitados ante o cacife do americano.

Enquanto a guerra híbrida é debatida e a diplomacia busca uma saída, o conflito em si segue seu curso violento. Nesta segunda, um ataque com mísseis matou três pessoas e feriu cerca de uma dúzia de moradores de Dnipro (Ucrânia).

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